
LASAR SEGALL E O
Claudio Moreno Domingues LASAR SEGALL E O ‘NAVIO DE EMIGRANTES’ Trabalho de Conclusão de Curso da Pós-graduação em Arte e Desenvolvimento Humano: Confluências Culturais no Caminho do Belo. Orientador Prof. Dr. Claudio César Gonçalves. São Paulo 2019 2 Faculdade Messiânica PÓS-GRADUAÇÃO EM: ARTE E DESENVOLVIMENTO HUMANO: CONFLUÊNCIAS CULTURAIS NO CAMINHO DO BELO Gostaria de expressar o meu agradecimento ao Museu Lasar Segall, a Biblioteca Jenny Klabin Segall, seus membros e funcionários, pela prestimosa e atenciosa dedicação, viabilizando assim a elaboração deste trabalho. Imagem de capa. Lasar Segall pintando o Navio de Emigrantes. Disponível em:. Acesso em: 04.03.2019. 3 INTRODUÇÃO: Em meio à vasta obra do artista plástico modernista - Lasar Segall (Vilna 1889 - São Paulo 1957) tomei como objeto de pesquisa, uma de suas destacadas telas, considerada por especialistas, como um dos pontos altos da sua produção artística; o painel de grandes proporções intitulado ‘Navio de Emigrantes’ realizado entre os anos de 1939 e 1941. A referida obra me marcou profundamente, quando de minha primeira visita ao Museu Lasar Segall1 . Uma composição intrínseca com uma multidão de elementos e referenciais históricos, estéticos e artísticos, condensados com grande habilidade poética em uma tela - mural, o que sem dúvida impacta o observador. Uma temática universal da busca da humanidade por um lugar melhor pra viver, pela sua Canaã, pelo seu idílico 'paraíso terrestre'. Fluxos emigratórios marcaram a história do povo brasileiro, a partir, por exemplo, da entrada em nossos portos, dos famigerados tumbeiros, mais conhecidos como 'navios negreiros'. Mais tarde na segunda metade do século XIX e início do século XX, pelas correntes emigratórias europeias, asiáticas e do Oriente Médio, onde conflitos e guerras impulsionavam famílias inteiras à busca da oportunidade de serem felizes em novas paragens. As privações e os sofrimentos abordo, nestes deslocamentos náuticos, eram como uma via crucis moderna. E foi ao constatar na tela de Segall, esta dura realidade expressa em formas e cores fortes e contundentes, que tive o impulso para pesquisar o 'Navio de Emigrantes' de Segall e conhecer suas motivações e seu olhar poético sobre este drama humano. A tela foi produzida em um momento especialmente dramático - a Segunda Grande Guerra (1939-1945), onde a barbárie se sobrepunha ao mundo civilizado. As temáticas da segregação, da perseguição e da emigração de grupos humanos, tocavam fundo nas suas lembranças pessoais, que no seu autoexílio no Brasil, ainda era assombrado por estes traumas passados, desde a difícil infância na Lituânia, como membro da comunidade judaica local na cidade de Vilna, a sua passagem Grupos de ocupantes deste navio espremidos, buscam antever na amurada do convés os primeiros sinais do seu destino, da terra ‘prometida’, enquanto outros buscam suportar o arrastar das horas e dos dias, descansando, confortando-se uns aos outros, os casais, os pais e filhos junto aos baús, caixotes, barris e ao madeirame. Sentados, de pé, deitados, corpos largados, chorando, conversando, brincando, meditando, a ordem do dia é esperar que a felicidade atingisse na linha do horizonte, enquanto as roupas secam nas traves. Os dias passam, a apreensão só aumenta, mas a esperança está na ordem do dia e acalenta os corações. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Lasar Segall foi um homem, plenamente engajado no seu tempo, não um revolucionário, mas uma pessoa que compreendia bem o significado da sua época de profundas transformações, onde as bases da sociedade moderna estavam sendo questionadas e novas propostas ousavam surgir. Críticas, incompreensão, medo, incertezas, intolerância, perseguição e revolta, eram sentimentos que brotavam em todas as esferas: na política, na economia, na arte, enfim, em todos os segmentos da vida humana. Segall afirmava: “cada homem é filho do seu tempo e a sua expressão, é a expressão do seu tempo” (BECCARI, 1984, p.259), o artista não é um visionário futurista, ele é fruto da sua época, entretanto, como todo artista almeja além da sua realização interior um reconhecimento social, seu trabalho é feito para ser fruído, assim, aqueles que lidam com arte acabam evidenciando ideias e sentimentos 30 coletivos nas suas tendências estéticas, com mais rapidez e realce, do que as outras pessoas, por isso, são muitas vezes vistos como profetas. No caso inverso, a não compreensão imediata do seu trabalho pode alcunhá-los como loucos ou degenerados, como diriam os nazistas, fora da sintonia do seu tempo, ou mais propriamente de uma sintonia ainda pouco compreendida e reconhecida como padrão social aceitável. Para Segall, a arte tem uma função especifica na sociedade, que é levar as pessoas à reflexão sobre si mesmas e seu tempo, fugindo do conformismo estático; ela deve possibilitar ao fruidor, a elevação da condição humana e a sua espiritualidade. Em sua concepção a arte é metafísica e não simplesmente ótica, quando o frio materialismo racionalista predomina sobre a expressão artística, ela torna-se meramente visual, arte sem expressão, um mero efeito técnico; quando ela se livra do jogo terreno, atinge o suprassensível. Chega a ser paradoxal, pois Segall não se entregou à abstração como seria presumível ao assumir tal discurso; ele optou por uma tendência naturalista, mas não mimética, um figurativismo suavizado, pelo uso geométrico impreciso da linha tensa, cheia de densidade plástica, pelo uso da cor em matizes pastéis, por achar que assim, o homem buscaria o máximo de expressão através da comunhão com a natureza terrena. Quanto maior a fusão do humano com o natural, maior a sua expressividade, e só assim o artista atingiria os seus mais profundos objetivos estéticos. Longe de ser um conformista, Segall batalhou e construiu o seu estilo e suas manifestações estéticas a seu modo, rompendo as restrições sócio-religiosas da sua terra natal, o rigorismo estético da Berlim das primeiras décadas do século XX, as variantes da escola modernista, contribuindo substancialmente na estruturação do expressionismo e da arte moderna. No Brasil, sua participação foi fundamental na formação do modernismo. Enfrentou a intolerância, sob vários aspectos: tendo seu trabalho identificado como arte degenerada pelos nazistas, igualmente na exposição do Rio de Janeiro, em 1943, quando alguns de seus quadros foram atacados com lâminas, mais uma
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